A Primeira Impressão
Ela era a garota "mais tudo" do colégio: a mais linda, mais bem de vida, mais metida, mais difícil, mais intocável. Como? Me respondam vocês. Como que eu, o garoto mais tímido e mais "insosso" do mesmo colégio poderia ter coragem de me aproximar dela e dizer certas coisas que só o coração da gente sabe criar?
Pronto. Estava formado o meu primeiro dilema existencial,assim como também estavam sendo escritos os meus primeiros poemas que, dependesse de mim, jamais os enviaria. Eu heim!, só pra ter o desprazer de vê-los desfeitos em minúsculos pedaços de papel lançados em algum cesto, misturado a resto de mingau ou arroz com charque estragados da hora do recreio. Isso é que não! Pedaços de mim jogados no lixo entre os restos da merenda escolar? Ah! Não!
Frequentemente eu passava por ela, tentava dizer oi, não conseguia, baixava a cabeça, me escondia dela feito um avestruz que enfia a cabeça na areia. Era meu primeiro receio (levar um bruta fora); e com toda razão eu me encolhia em meus primeiros sentimentos de paixão.
E a coisa acabou assim:
Final de ano letivo, todo mundo alvoroçado para receber o boletim carimbado de aprovação ou reprovação. Eu estava tranqüilo, tinha plena certeza de que obtivera notas para passar de ano, só o q me incomodava era saber que teria que passar as férias todas pensando nela, sem que ela ao menos desconfiasse que eu estava “caidinho da silva” por seus olhos azuis e seus cabelos loiros. Era minha primeira pontada de dor no coração.
De repente, em meio a tantos assovios, gritos e gandaias, pra minha grande surpresa notei que ela, justamente ela, tão pra cima, tão inacessível, tão linda..., tão ela mesma... quem diria acenava em minha direção me chamando. Olhei em volta para verificar se era mesmo comigo. Era sim!
Paralisei , suei frio, e sem acreditar consegui unir todas as minhas forças (que nem eram tantas) e caminhei até ela:
- oi!
Foi tudo que consegui falar, e olha que eu havia ensaiado mil e uma frases na espera desse momento. Mas por que cargas d’água Eu acharia que essa hora realmente iria chegar um dia?
-Bichinho bobo (Ela sorria), por que não me disse nada? Não sabe nem dizer quando gosta de alguém? Pois eu sei!
Aproximou-se para bem junto de mim (só aí percebi que Ela era um palmo mais alta do que Eu), senti seu rosto tão junto do meu, de modo que sua respiração quente contrastava com o ar gelado da minha timidez. Tascou-me um beijo! De imediato, intenso como se quisesse sugar para si a minha alma, depois cada vez mais lento e pude sentir um gosto diferente de tudo que já havia provado na vida, senti suas mãos em meus cabelos e não sabia por onde andavam as minhas. Fui relaxando e entrando no clima daquele momento, voei em um montão de pensamentos... (foi o Paulo só pode ter sido Ele, só Ele sabia... será que Ela ta de brincadeira comigo?... é tão bom! Que gosto é este? Hortelã? Morango?... Será que vamos ser namorados? Será que ela está gostando também?... Será que estou beijando direito?... Será que realmente estou beijando na boca?... foi o Paulo, só pode ter sido Ele!...)
Despertei de repente, senti os lábios dela desgrudarem-se lentamente dos meus e acordei completamente quando ouvi sua voz ainda bem próxima do meu rosto:
- Gostou? (Ela sorria ainda mais linda e travessa) – Pois Eu gostei e quero mais. Foi se aproximando de novo e meu impulso voltou a se afastar um pouco. Ah! Mas tem uma condição... me dá as cartas que Eu quero ler, afinal de contas elas foram escritas para mim não é?
Foi assim o meu primeiro beijo de amor e foi também a primeira impressão errada que tive de alguém em minha vida.
